quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Dia do juizo final

Finalmente estamos a ter muito trabalho! Na semana passada fizemos um jogo e meio de futebol (depois explico porquê um e meio), gravámos a inauguração de um resort - o Indie Village, onde estivemos alojados no primeiro mês aqui em Moçambique - e fomos ao teatro gravar uma peça. Já agora, na quinta-feira, tivemos visitas de colegas ... novos membros na equipa! Como se avizinham tempos dificeis, tiveram de vir durante pelo menos três semanas, para nos ajudar a dar conta do recado, pois como sabem estava a ser difícil.


Mas este post é dedicado aos primeiros dois jogos de futebol que fizemos, na passada quinta-feira, dia do pior pesadelo da minha vida. O dia começou cinzento, alguma chuva, nada que nos impedisse de trabalhar. Às 8 horas já estavamos na ZAP para levar os camiões até ao campo do Costa do Sol, onde tinhamos de montar o carro até às duas para o primeiro jogo; o outro era às 16 horas. Era tudo tão fácil: esticar 7 cabos, montar as 7 camâras, gravar um jogo, o outro era em directo para a Miramar ... mas não foi bem assim que aconteceu. Por volta das nove da manhã e, praticamente a chegar ao estádio, tivemos de parar os camiões! Deparamo-nos com cenário monumental, a estrada de terra batida que nos conduzia ao estádio tinha deixado de ser estrada, para passar ser um pantâno de lama, acompanhado por uns pequenos lagos, mas o suficiente para dar um mergulho. Armados em engenheiros civis, avaliámos as condições da estrada para ver se conseguiamos pôr os carros junto ao estádio, mas nada feito. Os carros tiveram de ficar a mais ou menos 400m ... e pronto, começámos a festa! Decidimos usar apenas 4 camâras, não tinhamos cabo para mais, tivemos de ligar umas bobines às outras para conseguir chegar ao estádio.

Quando começámos a montar o carro já deviam ser umas onze da manhã, tinhamos três horas para conseguir montar tudo, mas as condições eram tão más que tornavam a odisseia quase impossivel ... principalmente com apenas três pessoas aptas para montar o carro. Por acaso tivemos a sorte de os formandos do nosso curso estarem lá para aprenderem mais umas coisitas e, por isso, também ajudaram, na boa fé, esticaram os cabos, puseram o material todo no estádio. Mas ... não é bem assim que se faz o serviço: espalharam tudo pelo estádio, sem terem um sítio pré-defenido onde pôr o material. Logo depois de ver esta desgraça, tivemos de retirar os cabos todos e voltar a esticá-los para os sítios certos, a mesma coisa com o material e isto tudo no meio de chuva torrencial e lama. Acho que andava a escorrer mais água que as cataratas do Niagara!!! Com muito sofrimento, completamente encharcados, com lama até ao cabelo e algumas quedas à mistura, lá conseguimos arrumar a casa.

Entretanto, por volta das 13.30h chegaram os rapazes de Lisboa - acabadinhos de sair de uma viagem de dez horas de avião - e mal entraram no estádio ... deviam ter visto a cara deles, perante tal cenário de guerra!!! Começaram também a ajudar o pessoal, a montar o que restava, tentámos ser o mais rápidos possível, tivemos que improvisar muito para conseguir trabalhar, entre pôr pedras e estacas de madeira nos pequenos lagos para conseguir passar mais facilmente, até ter improvisado capas de chuva para as camâras a partir de sacos do lixo. No meio desta confusão toda, começou o primeiro jogo. Era só rir!!! Nunca tinha visto uma coisa assim, já o jogo estava a decorrer e havia pessoal a carregar as lentes e as camâras em caixas pesadas à frente dos bancos dos treinadores e do fiscal de linha. Só começámos a bombar quase no final da primeira parte e, completamente desfalcados, começámos com duas camâras ... no princípio da segunda parte já tinhamos três e só a meio ficámos com quatro a funcionar. Para variar um bocado, tivemos muito problemas em conseguir pôr tudo a funcionar devido aos cabos estarem completamente submersos e com carrinhas em cima deles e, claro, também por causa da chuva que o material apanhou nesta confusão toda. Mas pelo menos, ficámos consolados com o segundo jogo: esse sim era o importante, era em directo. Durante os cerca de dez minutos entre jogos, tentámos verificar se estava tudo em ordem para fazer bem o trabalho e almoçar muito rapidamente. E não é que conseguimos? Em plena forma, dentro dos possíveis, o jogo foi para o ar sem problemas ... ou quase: uma ou outra camâra sem intercom, outra - do nada -desligou-se ... nada de especial, se compararmos com o que já tinhamos passado.


Acreditem, na opinião de todos os intervinientes, este foi o pior cenário possivel para se trabalhar! Como é obvio, desenrascámos muita coisa e conseguimos ir para o ar muito desfalcados e mesmo assim fizemos um bom trabalho em relação ao que se faz aqui! Claro que para nós que estamos habituados a jogos com mais de dez camâras isto não era nada, mas só o simples facto de termos repetições já era muito bom para o pessoal de Moçambique. Os únicos jogos que eles vêem deste tipo são os da Liga Portuguesa, que a TVM e a RTP África transmitem. Por último, e para acabar este testamento, tenho muito a agradecer ao Fernando, Guedes, Hugo e Salazar - os novos macacos (agora já somos sete macacos a trabalhar)! Este pessoal que apareceu vindo do céu, literalmente, tem ajudado muito e, por acaso, até são bons rapazes. Somos todos e cada um tem o que merece!!! Porque amanhã vamos voltar ao mesmo estádio, montar tudo outra vez, gravar mais dois jogos ... e tudo indica que será nas mesmas condições. :(

1 comentário:

Anónimo disse...

O que vale é que resistes a tudo, né?

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